Rafel Lage é pesquisador autônomo de movimentos contraculturais no Brasil. Diretor do documentário ‘Malucos de Estrada’, Rafael – um ‘maluco’ ele mesmo – transmite nesta entrevista, algo do espírito e do imaginário comum a muitas destas pessoas que habitam espaços públicos.
Para o que nos interessa, vale destacar que estes ‘viajeros’ de que fala Rafael – também acrobatas, palhaços, mímicos, músicos, e malabaristas além de artesãos – estão entre estas pessoas que espontaneamente ‘surgem’ em espaços como ocupações (squats). Ao propor o reconhecimento da riqueza e das singularidades deste movimento, o Espaço Incerto pretende assegurar a abertura de canais para que ele se desenvolva mais plenamente, como uma espécie de veículo para a ‘desescolarização’ da sociedade. Não se trata com isso de propôr a instrumentalização do movimento, mas antes de reconhecê-lo mais propriamente a partir de suas próprias potencialidades, como uma espécie de circo-escola descentralizada, muito próximo do que propõe a ‘Pedagogia Profana’ de Jorge Larrosa. A proposta do projeto Brota de desenvolver espaços abertos e ocupações com foco sobre coisas como agroecologia e soberania alimentar, teria em vista, como “público-alvo”, não apenas o movimento de luta por moradia, principais beneficiários no caso das ocupações, mas também estas pessoas que seriam então assumidas como arte-educadoras. Vale considerar em relação à proposta, a experiência de coletivos como o da Ouvidor 63 (SP), El Quinto (PR), ou o trabalho que o coletivo da ex-Kuna Libertária vem realizando na ocupação Saraí, em Porto Alegre (RS).