O que é o projeto Brota?

“…não basta dizer ‘a instituição é útil’, ainda é preciso indagar: a quem é útil? “
Gilles Deleuze

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Sítio Alice_PoçoBranco_RN

Uma proposta de uso e apropriação da instituição ARTE:

O projeto Brota é uma iniciativa que procura ativar uma rede de colaboradores – estudantes e trabalhadorxs das mais diversas áreas do conhecimento – em torno da proposta de desenvolvimento de espaços abertos que favoreçam processos de organização política e experimentação social; espaços então considerados “heterotopias libertárias” – “espécies de utopias realizáveis”, como propõe Foucault.

Jardim São remo 014

GeoCasa São Remo _São Paulo_SP

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OCUPAÇÕES DE ARTE E MORADIA;
ESPAÇOS AUTÔNOMOS;
ESTAÇÕES AGROECOLÓGICAS E PERMACULTURAIS…

Como funciona? como são estes espaços?

Os espaços que interessam ao projeto Brota estão situados, de modo mais ou menos crítico, à margem do modelo de desenvolvimento capitalista tradicional, e identificam a autonomia como um elemento necessário para o estabelecimento de uma cultura mais livre e diversa. São espaços muito singulares, desenvolvidos em sua maioria a partir de princípios como autogestão, horizontalidade e apoio-mútuo. O Projeto Brota é fruto da percepção de que estes princípios favorecem a desconstrução das formas habituais como se estabelecem as relações sociais em nossa época; vale considerar que a proposta de autogestão, por exemplo, frequentemente exige o desenvolvimento de organizações coletivas e comunitárias.

Muitos destes ‘espaços abertos’ são moradias e ao mesmo tempo, ao menos potencialmente, espaços culturais; espaços que nos casos mais desenvolvidos funcionam como residências artísticas e ateliês compartilhados, possibilitando intensas experiências de troca e intercâmbio. São espaços que permitem formações sociais, familiares e afetivas mais amplas e diversas do que propõe o modelo tradicional em nossa época; muitos deles chegam a criar suas próprias políticas internas de gestão e segurança.

São de interesse particular ao projeto Brota os espaços cultivam hortas e operam trabalhos de resgate de conhecimentos ancestrais que envolvem desde o uso de plantas medicinais, até o tratamento do corpo e de seus resíduos. O projeto Brota incentiva, nesse sentido, estudos e práticas de etnobotânica, agroecologia, permacultura, agricultura biodinâmica etc.

Cabe ainda considerar a realização de experimentos relativos a temas diversos nestes espaços, tais como economia (economia da dádiva, bancos comunitários e moedas alternativas); gastronomia (recicles, alimentação viva, vegana, culinária de raiz); arquitetura (bioconstrução) e mesmo sexualidade (considerando a presença relativamente frequente nestes espaços de temas como amor livre, não-binarismo e pós-pornografia), etc.

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Multiespaço casa MOBA (datrajetoriamoba.com)

Com o objetivo geral de alimentar o que compreende ser a potência de transformação destes espaços, o projeto Brota procura propiciar condições que permitam que a inteligência e a força de um maior número de pessoas se concentre no desenvolvimento e na ativação destas iniciativas. Articulando a teoria institucional à questões de estética e história da arte, o projeto Brota propõe, para isso, fazer uso da instituição arte (mais ou menos como propõe Charles Esche neste texto: https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/instrumentalizar-a-arte-sim-diz-charles-esche-vivemos-tempos-assustadores-precisamos-de-conceitos-assustadores-1680141). Assim, ele pretende aproximar pólos que possibilitem a realização de uma “revolução estética” mais propriamente democrática, permitindo que pessoas advindas de diferentes campos concentrem técnica, tecnologia, saberes – poderes, como ensina Foucault – na direção do desenvolvimento destes espaços. O projeto Brota surge assim como um convite para trabalhar conjuntamente na produção de um universo estético e simbólico que compreenda mais plenamente o corpo e o imaginário de nossa época em suas formas mais singulares.

O projeto Brota é um trabalho de longo prazo. Sua realização envolve mapeamento e visitação de espaços; acompanhamento de dinâmicas de autogestão; elaboração de diagnósticos que permitam o reconhecimento de eventuais limitações e\ou faltas; facilitação de deslocamentos e encontros que possibilitem a realização de experimentos envolvendo comunidades locais; promoção de ciclos de estudos e eventos; produção e distribuição de materiais gráficos e audiovisuais para organização interna e para o estabelecimento de diálogos com a comunidade local; e finalmente, aquisição de materiais necessários para o desenvolvimento estrutural dos espaços que se ligam à rede, como livros, sementes, placas de energia solar, sacos de polipropileno, computadores, modens, equipamentos eletrônicos, meios de transporte etc.

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El Quinto_Curitiba_PR

O Brota pretende dar origem a uma publicação regular – um material informativo de experimentação crítica, e estudos em arte contemporânea, desescolarização, nomadismo, pós-anarquismo etc.
Toda forma de contribuição é bem vinda.
Saiba mais: bruxa@riseup.net

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IMG_0202                                 Recicle; Casa da Bruxa e Bandejão, Unirio_RJ.

*O projeto Brota é uma iniciativa livremente associada à Universidade Nômade. A Universidade Nômade é uma rede de movimentos e um “estilo de militância, baseado nos conceitos de multidãoenxameêxodo e produção do comum, que se organiza e nomadiza de modo autônomo, independentemente de um centro orgânico, uma ‘sede’ ou qualquer tipo de organização rígida de princípios, membros ou diretivas”: http://uninomade.net/

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“Reinventar a Polícia é possível”: Transcrição de entrevista com Luiz Eduardo Soares, ao Ilustríssima Conversa (Podcast)

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Transcrição de entrevista realizada pela Ilustríssima Conversa (podcast da Folha de São Paulo), com Luiz Eduardo Soares, antropólogo, especialista em segurança pública, um dos autores de Elite da Tropa (livro que deu origem ao filme Tropa de Elite), e autor do livro Desmilitarizar, lançado recentemente pela Boitempo.
 
Luiz Eduardo Soares fala sobre a necessidade de “refundação” das instituições policiais, de como a transição democrática nunca chegou à área de segurança pública, de encarceramento em massa, de racismo estrutural, do “casamento perverso entre o modelo policial e a lei de drogas”, sobre a estrutura organizacional da polícia militar em relação ao exército, sobre um possível modelo alternativo de segurança pública, sobre sua experiência como ex-secretário na área, sobre por que o plano de segurança pública (SUSP) proposto na época não foi pra frente, e finalmente, sobre o “pacote anticrime” proposto por Sérgio Moro.
 
Ficou um tanto longo, mas acompanhando o audio ao mesmo tempo (link nos comentários), acho que fica suave…:
 
Algumas palavras que eu não entendi direito no audio estão em vermelho. Se vc entender, me diz.
😉

Da arte e do trabalho

“Tento efetivamente privilegiar modos de escrever a história, modos de apresentar as situações, de agenciar os enunciados, modos de constituir as relações entre causa e efeito, ou entre antecedente e consequente, que perturbem as referências tradicionais, os modos de apresentação dos objetos, de indução das significações, e dos esquemas causais que constroem a inteligibilidade standard da história. Um discurso teórico é sempre uma forma estética, uma reconfiguração sensível dos dados sobre os quais ele argumenta. Reivindicar o caráter poético de qualquer enunciado teórico também é contestar as fronteiras e as hierarquias entre os níveis de discurso. O que nos remete para o nosso ponto de partida.”

Jacques Rancière

Útimo capítulo do livro “A Partilha do Sensível”, de autoria de Jacques Rancière:
A partilha do Sensível_capítulo_5 (link)

Enric Duran – Podemos vivir sin capitalismo

https://www.youtube.com/watch?v=hbN_fucnX2k

Flor do Asfalto (Rio de Janeiro) 2006-2011

Desescolarizar o mundo: Kuna Libertária (Porto Alegre): “o dinheiro não existe”

Terceiro da série ‘Desescolarizar o mundo’.

Kuna Libertária_O dinheiro não existe

Vídeo da Kuna: “A vida como um fazer natural”:

Desescolarizar* o mundo: Ocupa UNIRIO: Casa da Bruxa, Bandejão, primeira Bienal Autônoma de Artes e o nascimento do projeto Bruxa/ Brota

Desescolarizar a Universidade o mundo, é uma série que reúne registros e reflexões relativas à experiência em ocupações e espaços autônomos.

Desescolarizar o mundo_Ocupa UNIRIO_pdf.

Desescolarizar o mundo – Sobre ocupações como espaços de liberdade; o caso El Quinto (Prédio do DCE – UFPR)

Primeiro de uma série; registro de experiência e considerações estético-políticas sobre a experiência em ocupações e espaços autônomos.

Sobre ocupações como espaços de liberdade_o caso El Quinto_pdf

Pântano Revida – Aracruz (ES) – 2009 – 2013

Fazendo escola (ou refazendo-a?) – Thierry de Duve [última parte do capítulo 3]

De acordo com Thierry de Duve, já não é possível ensinar arte, mas apenas ‘transmitir a tradição’. Thierry, professor, crítico e curador, sustenta que, para isso, são fundamentais a História da Arte e a Estética, disciplinas que para ele não são teóricas (fundamentadas que estão, sobretudo, na experiência). O livro traz um levantamento geral de algumas das principais escolas de arte surgidas na Europa, particularmente a partir da década de 60, quando a atmosfera política de então parece ter deixado aberto caminhos para o desenvolvimento de projetos utópicos e experimentais; projetos que somente agora, a meu ver, começam a ser propriamente assimilados. Thierry considera com algum destaque o legado da Bauhaus, e alguns aspectos da influência do pensamento romântico e do idealismo alemão sobre o ensino da arte. Revelando uma “paixão insensata” sobre a discussão que levanta, ele lembra a todo momento, entre Marcel Duchamp e Joseph Beuys, a ideia de que todxs somos artistas. Para mim reside aí, nessa direção, o maior interesse de seu pensamento. Eu escaneei a parte final do capítulo 3 do livro, que foi um dos que mais me chamou a atenção, talvez por considerar de modo particular “a indeterminação dos canais de transmissão de arte”, e por evocar escolas abertas que funcionariam como residências e centros difusores, como a de Vila Arson. Ou ainda pela “escola de arte do futuro” esboçada de forma que penso coincidir em grande medida com o que venho procurando propor aqui, com o projeto Brota e com o Espaço Incerto.

Fazendo_escolauma ética: colocar a transmissão estética em seu devido lugar no mundo da arte. pdf

O Caso Mercur

O Caso da Mercur: Mudança Inspirada em Paulo Freire (pdf)