“…não basta dizer ‘a instituição é útil’, ainda é preciso indagar: a quem é útil? “
Gilles Deleuze
Uma proposta de uso e apropriação da instituição ARTE:
O projeto Brota é uma iniciativa que procura ativar uma rede de colaboradores – estudantes e trabalhadorxs das mais diversas áreas do conhecimento – em torno da proposta de desenvolvimento de espaços abertos que favoreçam processos de organização política e experimentação social; espaços então considerados “heterotopias libertárias” – “espécies de utopias realizáveis”, como propõe Foucault.
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OCUPAÇÕES DE ARTE E MORADIA;
ESPAÇOS AUTÔNOMOS;
ESTAÇÕES AGROECOLÓGICAS E PERMACULTURAIS…
Como funciona? como são estes espaços?
Os espaços que interessam ao projeto Brota estão situados, de modo mais ou menos crítico, à margem do modelo de desenvolvimento capitalista tradicional, e identificam a autonomia como um elemento necessário para o estabelecimento de uma cultura mais livre e diversa. São espaços muito singulares, desenvolvidos em sua maioria a partir de princípios como autogestão, horizontalidade e apoio-mútuo. O Projeto Brota é fruto da percepção de que estes princípios favorecem a desconstrução das formas habituais como se estabelecem as relações sociais em nossa época; vale considerar que a proposta de autogestão, por exemplo, frequentemente exige o desenvolvimento de organizações coletivas e comunitárias.
Muitos destes ‘espaços abertos’ são moradias e ao mesmo tempo, ao menos potencialmente, espaços culturais; espaços que nos casos mais desenvolvidos funcionam como residências artísticas e ateliês compartilhados, possibilitando intensas experiências de troca e intercâmbio. São espaços que permitem formações sociais, familiares e afetivas mais amplas e diversas do que propõe o modelo tradicional em nossa época; muitos deles chegam a criar suas próprias políticas internas de gestão e segurança.
São de interesse particular ao projeto Brota os espaços cultivam hortas e operam trabalhos de resgate de conhecimentos ancestrais que envolvem desde o uso de plantas medicinais, até o tratamento do corpo e de seus resíduos. O projeto Brota incentiva, nesse sentido, estudos e práticas de etnobotânica, agroecologia, permacultura, agricultura biodinâmica etc.
Cabe ainda considerar a realização de experimentos relativos a temas diversos nestes espaços, tais como economia (economia da dádiva, bancos comunitários e moedas alternativas); gastronomia (recicles, alimentação viva, vegana, culinária de raiz); arquitetura (bioconstrução) e mesmo sexualidade (considerando a presença relativamente frequente nestes espaços de temas como amor livre, não-binarismo e pós-pornografia), etc.
Com o objetivo geral de alimentar o que compreende ser a potência de transformação destes espaços, o projeto Brota procura propiciar condições que permitam que a inteligência e a força de um maior número de pessoas se concentre no desenvolvimento e na ativação destas iniciativas. Articulando a teoria institucional à questões de estética e história da arte, o projeto Brota propõe, para isso, fazer uso da instituição arte (mais ou menos como propõe Charles Esche neste texto: https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/instrumentalizar-a-arte-sim-diz-charles-esche-vivemos-tempos-assustadores-precisamos-de-conceitos-assustadores-1680141). Assim, ele pretende aproximar pólos que possibilitem a realização de uma “revolução estética” mais propriamente democrática, permitindo que pessoas advindas de diferentes campos concentrem técnica, tecnologia, saberes – poderes, como ensina Foucault – na direção do desenvolvimento destes espaços. O projeto Brota surge assim como um convite para trabalhar conjuntamente na produção de um universo estético e simbólico que compreenda mais plenamente o corpo e o imaginário de nossa época em suas formas mais singulares.
O projeto Brota é um trabalho de longo prazo. Sua realização envolve mapeamento e visitação de espaços; acompanhamento de dinâmicas de autogestão; elaboração de diagnósticos que permitam o reconhecimento de eventuais limitações e\ou faltas; facilitação de deslocamentos e encontros que possibilitem a realização de experimentos envolvendo comunidades locais; promoção de ciclos de estudos e eventos; produção e distribuição de materiais gráficos e audiovisuais para organização interna e para o estabelecimento de diálogos com a comunidade local; e finalmente, aquisição de materiais necessários para o desenvolvimento estrutural dos espaços que se ligam à rede, como livros, sementes, placas de energia solar, sacos de polipropileno, computadores, modens, equipamentos eletrônicos, meios de transporte etc.
O Brota pretende dar origem a uma publicação regular – um material informativo de experimentação crítica, e estudos em arte contemporânea, desescolarização, nomadismo, pós-anarquismo etc.
Toda forma de contribuição é bem vinda.
Saiba mais: bruxa@riseup.net
Recicle; Casa da Bruxa e Bandejão, Unirio_RJ.
*O projeto Brota é uma iniciativa livremente associada à Universidade Nômade. A Universidade Nômade é uma rede de movimentos e um “estilo de militância, baseado nos conceitos de multidão, enxame, êxodo e produção do comum, que se organiza e nomadiza de modo autônomo, independentemente de um centro orgânico, uma ‘sede’ ou qualquer tipo de organização rígida de princípios, membros ou diretivas”: http://uninomade.net/