A arte e a construção do desejo:

“Da minha parte, insisti no fato de que a emancipação era exatamente uma conversão do corpo e do pensamento que começava por uma leve subversão das atitudes ordinárias”. 

Jacques Rancière

 

O projeto Brota compreende que tanto a força do conservadorismo quanto a desorganização da esquerda em nossa época devem-se não apenas ao conforto que o sistema capitalista, com todas as suas contradições, é, em termos ao menos, capaz de propiciar, mas também à naturalização de certo entendimento de política inteiramente associado ao Estado e a um modelo de governo representativo. A dificuldade de engajar-se em processos que possibilitam o desenvolvimento de alternativas reais explicar-se-ia, nesse sentido, por uma geralmente incômoda necessidade de deslocamento dos lugares-comuns aos quais tantxs de nós encontram-se enraizadxs por hábitos e crenças mais ou menos conscientes.

Pretendendo funcionar como uma contra-engrenagem, o projeto Brota defende ser necessário investir em processos de desmecanização, desautomatização e descondiconamento do corpo e do pensamento. Em tempos de crise generalizada, o Brota compreende que a crítica é uma realização importante, mas insuficiente. Pois para que ela não conduza ao tédio do pensamento niilista mais negativista – altamente medicalizado em nossa época -, ou às armadilhas do ceticismo que geralmente traduz, com maiores ou menores oposições, a miséria do pensamento conservador, é urgente não apenas trabalhar na desconstrução das fantasias e ficções mais tradicionais, como aquelas que ligam o pensamento cristão ao monismo estatista e ao capitalismo global, mas especialmente na produção de novas fantasias e ficções, de tipo que possibilitem expressões de vida mais singulares e plenas.

Pois se tratamos da arte em termos de “experiência de suspensão de opostos”, e se então consideramos a oposição central entre imanência e transcendência a ser superada, temos aí – particularmente com a recusa radical de modos hierárquicos de organização social, com a desescolarização, com a possibilidade de um pluralismo jurídico, com concepções de família mais amplas, com maior biodiversidade e contato com a terra e com as plantas (inclusive, com as “de poder”) – indicações da direção em que caminhamos para esta nova construção.

No Comments

Sorry, the comment form is closed at this time.

“Reinventar a Polícia é possível”: Transcrição de entrevista com Luiz Eduardo Soares, ao Ilustríssima Conversa (Podcast)

Transcrição_Podcast_Luiz_Eduardo_Soares_Reinventar_a_polícia_é_possível

Transcrição de entrevista realizada pela Ilustríssima Conversa (podcast da Folha de São Paulo), com Luiz Eduardo Soares, antropólogo, especialista em segurança pública, um dos autores de Elite da Tropa (livro que deu origem ao filme Tropa de Elite), e autor do livro Desmilitarizar, lançado recentemente pela Boitempo.
 
Luiz Eduardo Soares fala sobre a necessidade de “refundação” das instituições policiais, de como a transição democrática nunca chegou à área de segurança pública, de encarceramento em massa, de racismo estrutural, do “casamento perverso entre o modelo policial e a lei de drogas”, sobre a estrutura organizacional da polícia militar em relação ao exército, sobre um possível modelo alternativo de segurança pública, sobre sua experiência como ex-secretário na área, sobre por que o plano de segurança pública (SUSP) proposto na época não foi pra frente, e finalmente, sobre o “pacote anticrime” proposto por Sérgio Moro.
 
Ficou um tanto longo, mas acompanhando o audio ao mesmo tempo (link nos comentários), acho que fica suave…:
 
Algumas palavras que eu não entendi direito no audio estão em vermelho. Se vc entender, me diz.
😉

Da arte e do trabalho

“Tento efetivamente privilegiar modos de escrever a história, modos de apresentar as situações, de agenciar os enunciados, modos de constituir as relações entre causa e efeito, ou entre antecedente e consequente, que perturbem as referências tradicionais, os modos de apresentação dos objetos, de indução das significações, e dos esquemas causais que constroem a inteligibilidade standard da história. Um discurso teórico é sempre uma forma estética, uma reconfiguração sensível dos dados sobre os quais ele argumenta. Reivindicar o caráter poético de qualquer enunciado teórico também é contestar as fronteiras e as hierarquias entre os níveis de discurso. O que nos remete para o nosso ponto de partida.”

Jacques Rancière

Útimo capítulo do livro “A Partilha do Sensível”, de autoria de Jacques Rancière:
A partilha do Sensível_capítulo_5 (link)

Enric Duran – Podemos vivir sin capitalismo

https://www.youtube.com/watch?v=hbN_fucnX2k

Flor do Asfalto (Rio de Janeiro) 2006-2011

Desescolarizar o mundo: Kuna Libertária (Porto Alegre): “o dinheiro não existe”

Terceiro da série ‘Desescolarizar o mundo’.

Kuna Libertária_O dinheiro não existe

Vídeo da Kuna: “A vida como um fazer natural”:

Desescolarizar* o mundo: Ocupa UNIRIO: Casa da Bruxa, Bandejão, primeira Bienal Autônoma de Artes e o nascimento do projeto Bruxa/ Brota

Desescolarizar a Universidade o mundo, é uma série que reúne registros e reflexões relativas à experiência em ocupações e espaços autônomos.

Desescolarizar o mundo_Ocupa UNIRIO_pdf.

Desescolarizar o mundo – Sobre ocupações como espaços de liberdade; o caso El Quinto (Prédio do DCE – UFPR)

Primeiro de uma série; registro de experiência e considerações estético-políticas sobre a experiência em ocupações e espaços autônomos.

Sobre ocupações como espaços de liberdade_o caso El Quinto_pdf

Pântano Revida – Aracruz (ES) – 2009 – 2013

Fazendo escola (ou refazendo-a?) – Thierry de Duve [última parte do capítulo 3]

De acordo com Thierry de Duve, já não é possível ensinar arte, mas apenas ‘transmitir a tradição’. Thierry, professor, crítico e curador, sustenta que, para isso, são fundamentais a História da Arte e a Estética, disciplinas que para ele não são teóricas (fundamentadas que estão, sobretudo, na experiência). O livro traz um levantamento geral de algumas das principais escolas de arte surgidas na Europa, particularmente a partir da década de 60, quando a atmosfera política de então parece ter deixado aberto caminhos para o desenvolvimento de projetos utópicos e experimentais; projetos que somente agora, a meu ver, começam a ser propriamente assimilados. Thierry considera com algum destaque o legado da Bauhaus, e alguns aspectos da influência do pensamento romântico e do idealismo alemão sobre o ensino da arte. Revelando uma “paixão insensata” sobre a discussão que levanta, ele lembra a todo momento, entre Marcel Duchamp e Joseph Beuys, a ideia de que todxs somos artistas. Para mim reside aí, nessa direção, o maior interesse de seu pensamento. Eu escaneei a parte final do capítulo 3 do livro, que foi um dos que mais me chamou a atenção, talvez por considerar de modo particular “a indeterminação dos canais de transmissão de arte”, e por evocar escolas abertas que funcionariam como residências e centros difusores, como a de Vila Arson. Ou ainda pela “escola de arte do futuro” esboçada de forma que penso coincidir em grande medida com o que venho procurando propor aqui, com o projeto Brota e com o Espaço Incerto.

Fazendo_escolauma ética: colocar a transmissão estética em seu devido lugar no mundo da arte. pdf

O Caso Mercur

O Caso da Mercur: Mudança Inspirada em Paulo Freire (pdf)